29 setembro 2015

2015 Irã - Impressões de Teerã e do Irã

A visita ao Irã foi cercada de suspeitas pelas pessoas educadamente ignorantes da realidade do país. O que eu e Matheus pudemos perceber é a completa normalidade, sob a ótica ocidental, capitalista e contemporânea.

As mulheres devem usar um véu sobre os cabelos, sim. E não devem usar roupas que exibam a bunda de forma, digamos, farta. Mas a solução a essas duas normas é bem menos conservadora que o imaginado. Os cabelos podem estar quase plenamente visíveis. As batas, ligeiramente transparentes. Naturalmente, uma parte da população feminina usa um chador longo, exibido numa forma triangular negra sobre todo o corpo. Fica a critério. Pessoalmente, acho até misterioso, mas o nihab é muito mais comum.  A maquiagem, como no resto do Oriente Médio, é forte. As sobrancelhas marcadas em diagonal dão um semblante de vilã. Elas trabalham por aí (incluindo táxis) , nos atendem, estudam, andam nos vagões de metrô mistos, pintam os cabelos.

Calça e blusa justíssimas, cinto com emblema de grife, jóias, cabelos escovados e armadissímos de laquê. Não, não são as mulheres mas os homens! Eles, quase sempre de camisa de botão, justas, barriguinha de pão marcada, calça chino, moleton, jeans ou uma versão super larga local. Barba curta em geral, mas também barbão ou bigode hipster, ou cara limpa. Mochila é incomum, mais popular a bolsa carteira ou uma sacola de loja de marca (falsa).

A vida em Teerã é agitada, a crise passa longe. Como no Sudeste Asiático, as motos abundam e transitam onde couberem, sem constrangimento. A cidade é suja, um sistema de canais faz circular a água de degelo das montanhas, adicionada de lixo e esgoto local, ainda que não fétida. O dia a dia é de metrópole,  poluição, trânsito infernalíssimo. O comércio é muito setorizado. Aqui, a zona norte é mais rica, e mais alta.

Ninguém dá nenhuma bola pra gente, sempre passamos como locais. Mesmo os óbvios estrangeiros são deixados em paz.

Notamos poucas mesquitas aqui. Também ninguém chamou para as orações por meio de alto falantes.

Sabe o toque proibido da Jordânia? Aqui ele parece mais brando. Não sei se casados, mas vários de mãos dadas, afeto, cumplicidade, intimidade. Vimos um semitravesti. Um óbvio casal gay no metrô, alisando cabelos e rostos. Ou ninguém ligava, ou ninguém associava o ato a romance, o que me soa improvável.

A agitação cai a zero junto com a madrugada. Simplesmente não há o que fazer.

O Irã não tem segredo e sua falsa reputação de destino complicado ou perigoso é injusta.
Eu e Matheus achamos que o país está numa situação similar ao do Brasil no fim dos anos 80, mas em melhores condições econômicas. Muitos dos comportamentos sociais, legais e cotidianos nos lembravam toda hora nosso passado. A diferença é a presença da Internet, ainda que não de forma absolutamente maciça. Com a baixa das sanções econômicas, o Irã parece ter tudo para deslanchar. A infraestrutura geral é boa e o nível de escolaridade também. Eles precisam melhorar o nível de civilidade quanto a trânsito e lixo, principalmente. Mas é um povo honesto e cordato, que resistiu ao relativo isolamento de forma digna e não parou no tempo, apesar de toda a questão religiosa.

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